Rãs

 

Introdução

 

A ranicultura pode ser definida como a criação racional de rãs através da utilização de técnicas específicas, com o objetivo principal de produzir carne de rã, muito apreciada em razão do seu delicado sabor e também por tratar-se de uma carne com baixíssimo teor de gordura (0,33 gramas de lipídeos/100 gramas de carne), sendo indicada para pessoas doentes e crianças com problemas de alergias gastro-intestinais.

Trata-se de um ramo da agropecuária nacional, que nos últimos anos apresentou um desenvolvimento extraordinário em função dos resultados das pesquisas que  vêm sendo desenvolvidas em diversas instituições de pesquisa e ensino.

Esses resultados possibilitaram estabelecer os principais parâmetros zootécnicos hoje empregados na ranicultura, bem como o desenvolvimento de novas técnicas que abrangem todo o processo de criação, desde o ovo até a abate.

Embora já se tenha um bom conhecimento sobre o desempenho das rãs criadas em cativeiro, muitas pesquisas ainda terão que ser realizadas, principalmente na área da nutrição,  seleção e melhoramento genético, até que se atinja o nível técnico apresentado em outros ramos da agropecuária, como por exemplo a avicultura.

Todavia, se compararmos a maneira como as rãs eram criadas e como são criadas  atualmente, constata-se que a ranicultura nacional evoluiu significativamente, transformando-se numa atividade bastante lucrativa, desde que seja desenvolvida mediante a correta utilização das técnicas existentes que serão apresentadas resumidamente.

Embora existam diversas espécies de rãs comestíveis, a mais indicada para produção comercial é a rã-touro ou rã americana cujo nome cientifico é Rana catesbeiana - Shaw, l802.

Essa espécie é originária da América do Norte e foi introduzida no Brasil em 1935, apresentando excelente adaptação às nossas condições climáticas, com rápido desenvolvimento e maturidade precoce.

Além da carne, que é o principal produto da criação de rãs, existem ainda os subprodutos, dos quais merecem destaque: a pele (utilizada na confecção de bolsas, sapatos, cintos, etc) e o óleo de rã (utilizado na fabricação de cosméticos), além da produção de girinos, imagos (rãs recem-metamorfaseadas) e reprodutores cujo comércio tem-se intensificado bastante nos últimos anos.

 

Instalações

 

Local

Na escolha do local de construção e instalação de um ranário, deverão ser observado alguns fatores:

Água :

A quantidade, qualidade e condição são indispensáveis para o êxito da criação de rãs. Deve-se observar os seguintes aspectos:

- Qualidades físico-químicas da água: o pH deve encontrar-se entre 6,5 e 8, sendo o ideal 7,O; Oxigênio dissolvido de 6 a 8 mg por litro de água; Teor de cálcio próximo a 20 mg por litro; Temperatura ideal entre 25ºC e 30ºC. Evitar água excessivamente turva, com excesso da matéria orgânica e alimento em suspensão, ou salobra.

- Nascentes: deve dar-se preferência a este tipo de fonte de água, ainda mais se estiver situada na propriedade, pois assim tem-se total controle sobre a qualidade da mesma. O ideal é que esteja localizada num nível mais alto que a do ranário, pois desta forma a distribuição da água dar-se-á por gravidade.

- Córregos: deve-se evitar a utilização de água de córregos, principalmente quando não se conhece a atividade desenvolvida ao longo do curso de água, devido o risco da contaminação por agrotóxicos, esgoto doméstico ou qualquer outro agente poluente.

- Poços:  É outra opção que pode ser utilizada, entretanto deve-se ficar atento com relação ao teor de oxigênio dissolvido na água, pois águas de subsolo geralmente são pobres em oxigênio. Nesse caso ainda há o inconveniente, a não ser que se tenha um poço artesiano, da água ter que ser bombeada, resultando num aumento do custo de produção.

- Vazão disponível: essa medida deverá ser feita de preferência durante o inverno, na época das secas.

Clima:

Inicialmente é preciso esclarecer que as rãs são animais pecilotérmicos (de sangue frio), isto significa que a atividade metabólica delas está diretamente relacionada com a temperatura ambiente. Sob baixas temperaturas tornam-se letárgicas (pouco ativas) e sob altas temperaturas (35ºC) são muito ativas, alimentam-se bastante e crescem rapidamente.

Portanto, o clima da região onde o ranário  será implantado, deverá preferencialmente apresentar temperaturas com média das máximas em torno de 30ºC ou mais, e média das mínimas não inferior a 15ºC.

Cabe aqui salientar que com a utilização das modernas técnicas de climatização, através do uso de estufas agrícolas, consegue-se amenizar significativamente o efeito negativo das baixas temperaturas e acelerar o desenvolvimento destes animais.

Relevo:

De preferência devera ser plano ou levemente inclinado.

Insolação:

Evitar áreas sombreadas, com excesso de vegetação muito alta nas proximidades, assim como fundos de vales cuja orientação esteja no sentido norte-sul, pois haverá muita sombra no período da manhã e da tarde e, conseqüentemente, temperaturas mais baixas, principalmente no inverno.

Acesso:

O local deverá ter bom acesso a fim da facilitar as atividades gerais do ranário, bem como o escoamento da produção.

Centro Consumidor:

Sempre que possível procurar locais que estejam relativamente próximos ao centro consumidor para diminuir os custos de transporte.

Local tranqüilo:

As rãs são animais ariscos, que se assustam com facilidade, portanto deve-se evitar a construção do ranário em local onde haja muita movimentação de pessoas ou veículos.

Construção do ranário:

- Rede hidráulica: a distribuição de água deve ser individual para cada tanque. Os tubos deverão ser de PVC (não usar tubos de ferro galvanizado, cobre ou chumbo, que podem liberar elementos tóxicos aos girinos). Evitar excesso de curvas na rede hidráulica a fim de diminuir as perdas de carga e as chances de ocorrer entupimento. O diâmetro dos tubos de entrada de água nos tanques deverá ser de 3/4 a 1 polegada e dos tubos de saída de 3 a 4 polegadas.

- Alvenaria: as partes de alvenaria, principalmente o piso dos tanques de engorda devem ser bem acabados. Rugosidades, cantos vivos e bordos cortantes devem ser evitados, pois podem causar ferimentos nos animais, assim com deve-se evitar também piso excessivamente áspero, o pode provocar ferimentos nos animais. 

- O fundo dos tanques e piscinas deve ter uma inclinação de 1% a 2% em direção a saída de água para facilitar o escoamento de água e a limpeza dos mesmos.

Subdivisão do ranário

O ranário é composto por diferentes setores com estruturas físicas específicas descritas a seguir:

- Setor de Reprodução: formado por duas áreas, uma destinada a alimentação dos animais, constituída por uma piscina retangular com uma ilha no centro e, ao redor da piscina, na área seca, são distribuídos os abrigos. A outra área é formada por um conjunto de pequenos tanques (1,00 X 1,00 X 0,20 m), denominados tanques de postura ou desova. Os tanques de postura podem estar distribuídos ao redor da piscina ou apenas de um lado, mas a distância entre eles deve ser de 2 a 3 metros.

Tanto a piscina como os tanques de postura devem ser de alvenaria. Não existe nenhuma barreira física entre as duas áreas, sendo que os animais podem transitar livremente entre elas. Na época da reprodução os machos deslocam-se naturalmente para os tanques de postura, começam a coaxar atraindo as fêmeas; ocorre então o acasalamento e a desova. Este setor, assim como os demais, é coberto de tela (sombrite 50%), para evitar a entrada de predadores e também o excesso de radiação solar.

- Setor de eclosão ou Desenvolvimento Embrionário: Formado por um conjunto de tanques de alvenaria, geralmente com dimensões de 1,00 X 1,00 x 0,20 m , construídos no interior de uma estufa, cuja função é manter a temperatura estável, evitando variações bruscas que são prejudiciais nesta fase do desenvolvimento. As desovas recolhidas nos tanques de postura (Reprodução) são transferidas para os tanques de eclosão, nos quais ocorrerá todo o desenvolvimento embrionário, isto é, do ovo até a fase de girino.

- Setor de girinagem: Este setor é composto por um conjunto de tanques de crescimento e metamorfose e de tanques de estocagem.

- Tanques de crescimento e metamorfose: são tanques de alvenaria com profundidade que pode variar de 0,30 a 0,50 m, geralmente de formato retangular e dimensões variáveis (p. ex. 2,00 X 4,OO ou 2,50 X 10,00 m), dotados de uma canaleta lateral onde são coletados os imagos. Nesses tanques, como o próprio nome indica, ocorre o crescimento dos girinos e todo o processo de metamorfose.

- Tanques de Estocagem: São tanques de pequenas dimensões (geralmente caixas d'água de fibrocimento de 750 ou 1000 litros) onde, através de manejos específicos, consegue-se retardar o desenvolvimento dos girinos e desta forma regular o fluxo de produção do ranário.

Uma opção para baratear o investimento inicial na construção do ranário é a utilização de tanques-rede. Neste caso pode-se aproveitar açudes ou tanques naturais existentes na propriedade e neles instalar os tanques-rede, que são estruturas semelhantes a um cesto, confeccionados com tela de nylon - tipo mosquiteiro, com estruturas de ferro, PVC ou bambu.

Quando se utilizam esses tanques é preciso ficar atento à limpeza das telas, pois com o passar do tempo forma-se uma camada de algas filamentosas (limo) que poderá obstruir as malhas da tela, dificultando a renovação da água, tornando o ambiente impróprio ao desenvolvimento dos girinos.

- Setor de Pré- Engorda (Seleção Fenotípica): São tanques que apresentam uma piscina, abrigos e cochos, para os quais são transferidas as recém-matamorfoseadas e onde, através de um manejo específico, se faz uma seleção dos animais que passarão para os tanques de engorda.

- Setor de Engorda: O setor de engorda é composto por tanques que podem ser de diferentes tipos, entretanto todos possuem es seguintes estruturas em comum:

- Piscina: destinada ao atendimento das necessidades fisiológicas diárias das rãs, como regulação térmica, hidratação do corpo e evacuação.
- Abrigo: estrutura que pode ser de madeira, concreto ou fibrocimento, que funciona como refúgio para os animais, proporcionando-lhes maior segurança e tranqüilidade e conseqüentemente, diminuir o atraso causado pela entrada dos tratadores por ocasião do fornecimento do alimento ou limpeza dos tanques.
- Cochos: recipiente onde é colocado o alimento das rãs.

Os modelos de tanques de engorda mais comumente usados são os seguintes:

- Tanque-Ilha: é o modelo mais antigo e surgiu no final da década de 1970, resultante do empirismo dos ranicultores. Com o passar dos anos passou por certos aperfeiçoamentos. Sob a ponto de vista estrutural pode-se dizer que o modelo tanque-ilha, está ultrapassado.

- Confinamento: este modelo foi desenvolvido na Universidade Federal de Uberlândia, é caracterizado pelas suas pequenas dimensões (geralmente 10 m²) e por ser construído totalmente em alvenaria.

- Anfigranja: o que caracteriza este modelo, desenvolvido na Universidade Federal de Viçosa, é a disposição linear de piscina, abrigos e cochos permitindo uma distribuição mais uniforme dos animais no interior do tanque. Os tanques (de alvenaria), são construídos no interior de galpões, semelhantes aqueles utilizados nas granjas de engorda de frangos.

- Gaiola: desenvolvido em meados da década de 80 pelo Instituto de Pesca de São Paulo, para ser utilizado em pesquisas de engorda de rãs. Este modelo, com certas modificações, acabou sendo adotado por alguns criadores, entretanto devido a dificuldades de manejo, principalmente no que diz respeito à distribuição de alimento, seu uso, para fins comerciais, ainda não é recomendado.

- Ranário climatizado, desenvolvido pelo Instituto de Pesca/SP, vem despertando muito interesse entre os criadores e todos aqueles que pretendem iniciar-se na atividade. Trata-se de um sistema de produção onde todos os setores (desde a reprodução até a engorda) são construídos no interior de estufas agrícolas. As instalações que compõem os diferentes setores apresentam várias melhorias estruturais que permitem, através de um manejo específico, uma produção praticamente constante ao longo do ano.

 

Manejo Reprodutor

 

Biologia da rã-touro

A rã touro pertence à classe Amphíbia (do grego amphi=duas, bias=vida), cujo nome indica a maioria das espécies que vivem parcialmente na água doce e parcialmente na terra.

A rã-touro, como a maioria dos anfíbios, acasala-se na água, onde seus ovos são depositados e onde as larvas, denominadas girinos, vivem e crescem até se metamorfosearem em rãs jovens.

Somente os machos coaxam (embora as fêmeas também emitem sons) e o som do coaxar se assemelha ao mugido de um boi, daí a origem do nome rã-touro (em inglês bullfrog).

- Acasalamento: o macho entra na água e começa a coaxar atraindo a fêmea, abraçado-a pelas costas e fazendo com que ela elimine os óvulos enquanto ele descarrega o esperma. Ocorre assim a fecundação, externamente, na água. Os ovos apresentam coloração escura, formato esférico e são envolvidos por uma camada gelatinosa que em contato com a água aumenta de volume, sendo que o conjunto dos ovos - desova - adquire um aspecto de lençol gelatinoso flutuante.

Logo após a fertilização inicia-se o desenvolvimento embrionário, caracterizado por uma série de estágios cujo número pode variar conforme as diferentes tabelas elaboradas por diversos autores. No caso da tabela elaborada em 1960 pelo pesquisador K. L. Gosner, esse período abrange 25 estágios, da fecundação até o estágio de girino.

No estágio de girino, estes animais apresentam um crescimento extraordinário e em seguida inicia-se o processo de metamorfose, com o desenvolvimento dos membros posteriores seguidos dos anteriores e finalizando com a absorção da cauda, resultando naquilo que em ranicultura denominamos da imago ou rã recém metamorfoseada.

Nos estágios finais da metamorfose quando os girinos já apresentam os quatro membros, porém ainda possuem a cauda, a tendência deles é ficarem em locais mais rasos, onde possam se apoiar e permanecer com as narinas fora da água para respirar, pois e respiração que era branquial, passa a ser pulmonar.

As imagos são como miniaturas de rãs adultas, isto é, apresentam o mesmo aspecto que estas, sendo que o seu peso varia de 4 a 10 gramas. As rãs não possuem órgãos sexuais externos  que permitam a distinção entre machos e fêmeas, porém ao atingirem o estágio adulto apresentam dimorfismo sexual bem evidente, podendo o sexo ser distinguido através da observação das características apontadas no quadro abaixo:

Características Machos Fêmeas
Diâmetro da membrana Maior que o diâmetro Quase igual ao diâmetro
Timpânica do globo ocular do globo ocular
Coloração do papo Amarela Creme esbranquiçada
Coaxado nupcial Sim Não

A duração do período de ovo a imago (Ciclo: ovo-girino-imago-rã), em águas com temperatura média variando entre 25ºC a 28ºC, é de 2,5 a 3 meses.

A duração do período de imago até rã, com peso para abate (160 a 170 gramas), varia em função de vários fatores, principalmente temperatura e alimentação, podendo ser de 3,5 a 14,0 meses quando as rãs são criadas sob uma temperatura média de 30ºC a 35ºC e alimentadas com ração com teor protéico de 46% (ração para trutas).

O período natural de reprodução desta espécie, para as condições climáticas do Estado de São Paulo, estende-se do início de setembro até meados ou final de fevereiro. A quantidade de óvulos por postura varia de acordo com o peso e idade dos animais. Com cerca de um ano e peso de 150 a 200 gramas, a rã-touro já está apta a reprodução, podendo produzir de 3000 a 5000 óvulos. Na bibliografia especializada encontramos citações afirmando que a produção de óvulos pode chegar até 20000, com os animais pesando entre 400 a 650 gramas.

Reprodutores

- Densidade no setor de reprodução: 2,5 a 3 animais/m²;
- Proporção entre machos e fêmeas: 1 macho para 1 fêmea;
- Alimentação: ração peletizada misturada com larvas de moscas, na proporção de 80% de ração e 20% de larvas. A ração para trutas  é utilizada com bastante sucesso, e o teor protéico varia de 46% - na fase de crescimento a 48% -  na fase inicial.

Atenção: Evitar o manuseio dos animais na época da reprodução. Ao comprar reprodutores, escolher os animais que apresentem aspeto saudável, pele brilhante, ausência de machucados, deformações, etc. Deve-se dar preferência aos animais que apresentem pernas longas e uma boa conformação corpórea e seu peso deverá ser no mínimo de 200 a 250 gramas. Tomar cuidado com a procedência dos animais para evitar problemas de consangüinidade, que pode resultar no aparecimento de animais com deformações, queda de produção , etc..

Desovas

- Coleta: as desovas são coletadas nos tanques de postura com o auxílio de uma bacia. Basta afundar a bacia na água que a desova vem junto. Após a coleta os ovos são transferidos para os tanques de eclosão.

Atenção: O manuseio das desovas deve ser cuidadoso para evitar choques mecânicos. Ao colocar a desova no taque da eclosão deve-se despejá-la cuidadosamente sobre um quadro de sarrafos com fundo da tela de nylon - tipo mosquiteiro, que tem a função de manter os ovos na superfície da água.

Girinos

- Densidade nos tanques de crescimento e metamorfose: 1 girino por litro de água.
- Densidade nos tanques de estocagem: 20 a 25 girinos por litro de água.
- Alimentação: ração finamente moída - quanto menor o tamanho das partículas da ração, melhor será o seu aproveitamento pelos girinos -  é jogada à lanço sobre a superfície da água. Com relação à quantidade de alimento, deve-se fornecer uma porção diária correspondente a 10% do peso vivo dos animais, que deverá ser baixada a 5% quando do início da metamorfose. Essa porção diária não deverá ser fornecida de uma só vez, mas dividida em três ou quatro vezes.
- Recomendações: Ao se realizar uma contagem, separação por tamanho ou estágio de desenvolvimento ou qualquer tipo de manejo onde os girinos ficam temporariamente fora da água, deve-se manuseá-los cuidadosamente, pois sua pele é muito delicada. Deve-se evitar também fazer este tipo de serviço nas horas mais quentes do dia e, de preferência, fazê-lo na sombra.

Nos tanques de girinos é preciso ficar atento quanto à presença de predadores que podem causar sérios prejuízos ao criador. Existem varias espécies de predadores: insetos (baratas d'água, ninfas de libélula), peixes (traíra, muçum), aves (bem-te-vi, martim-pescador) e répteis (cobras). Para evitar a sua entrada nos tanques, deve-se cobri-los com tela de nylon e instalar filtros de areia nas entradas de água.

Imagos

- Densidade: nos tanques de pré-engorda ou seleção fenotípica, utiliza-se uma densidade de até 100 imagos/m².
- Alimentação: na fase inicial utilizar ração peletizada - pellets pequenos - para trutas, misturada com larvas de mosca, inicialmente na proporção de 50% de ração e 50% de larvas. Depois que os animais estiverem condicionados ao consumo de ração, deve-se baixar a quantidade de larvas para 20%. Com relação à quantidade de alimento a ser fornecida diariamente, recomenda-se que esta seja suficiente para que haja sempre uma pequena sobra no dia seguinte.
- Recomendações: Os imagos devem ser manuseados com cuidado e deve-se escolher as horas mais frescas da dia, trabalhando sempre na sombra. Ao se fazer uma triagem ou transporte de um tanque para outro, os baldes onde os animais serão colocados deverão ter pouca água, de tal forma que os imagos possam ficar apoiados no fundo do balde.

As rãs apresentam crescimento bastante heterogêneo, isto é, umas crescem mais que as outras, resultando numa desuniformidade do tamanho dos animais. O canibalismo, onde as menores são devoradas pelas maiores, é uma conseqüência direta dessa desuniformidade e, para evitá-lo, são realizadas triagens periódicas na quais os animais são separados por tamanho e reagrupados por tanque de tal maneira que cada tanque de engorda  abrigue lotes o mais homogêneo possível de animais.

 

Manejo Alimentar

 

Engorda

- Densidade: nos tanques de engorda a densidade recomendada é de 50 rãs/m².
- Alimentação: ração peletizada para trutas -na fase de crescimento, misturada com larvas da mosca, na proporção de 20% de larvas e 80% de ração.
- Triagens: deverão ser realizadas a cada 30 dias, ou sempre que necessário.
- Recomendações: Ao se fazer uma triagem, os animais devem ser manuseados cuidadosamente. Não se deve deixá-los amontoados nos baldes, nem jogá-los de um balde para outro pois, além de causar stress, poderá resultar em ferimentos ou fraturas.

Produção da larva de moscas

A rã-touro, a partir da fase de imago ou rã jovem, muda de hábito alimentar e em condições naturais passa a ser caçadora, alimentando-se de pequenos peixes, girinos, rãs, minhocas e principalmente insetos. Devido ao forte instinto caçador desses animais, a movimentação do alimento constitui-se num forte estímulo para que ele seja apreendido.

Até o início da década de 80 a prática utilizada pela maioria dos ranicultores para alimentar as rãs em cativeiro, consistia na deposição de restos orgânicos de origem animal (vísceras e/ou carcaças) no interior dos tanques de engorda para atrair moscas que ali depositavam seus ovos. Essas moscas e suas larvas constituíam a principal fonte de alimento das rãs.

Entretanto, esta prática apresentava uma série de inconvenientes dos quais podemos citar:

- A produção de larvas e, conseqüentemente, a oferta de alimento variavam de acordo com as estações do ano e com as condições ambientais do local, sendo praticamente nula nas épocas frias do ano.
- A proliferação de espécies indesejáveis e de microrganismos patogênicos que poderiam causar problemas sanitários aos animais e também aos tratadores.
- O mau cheiro e a imagem do material orgânico em decomposição causava uma impressão negativa nas pessoas que visitavam os ranários, acabando por desestimula-las a consumir carne de rã. Esses problemas foram superados através do desenvolvimento de técnicas adequadas para produção elevada de larvas de moscas, sendo que a espécie mais indicada é a mosca doméstica ou mosca comum. A escolha desta espécie deve-se ao baixo custo de produção, alto rendimento resultante do seu elevado potencial reprodutivo e a simplicidade das técnicas de sua criação. Para a correta utilização dessas técnicas é importante conhecer alguns aspectos da biologia desse inseto:
- O ciclo de vida divide-se em quatro fases: ovo, larva, pupa e mosca adulta.
- Cada fase tem uma determinada duração que, em média, é de: ovo: 8 a 24 horas, larva: 4 a 5 dias, pupa: 5 a 6 dias e mosca adulta: 20 a 22 dias.

Em condições ideais a postura de ovos começa 4 a 5 dias após o início da fase adulta.

- 0 tipo de alimento varia de acordo com a fase do ciclo: moscas adultas: açúcar, leite e água; pupas: não recebem alimentação; larvas: uma mistura de farelo de trigo com farinha de peixe, umedecida com água, denominada substrato de engorda.

Quanto às condições ambientais ideais para o desenvolvimento da espécie na fase adulta, no que diz respeito à temperatura e a umidade relativa do ar, deve-se ter em média 25 a 27ºC e 70%, respectivamente.

Técnicas de criação de moscas

- Moscas adultas: são criadas em gaiolas, denominadas moscários, construídas com sarrafos e tela de nylon, podendo apresentar diferentes dimensões.

Ao redor da abertura frontal das gaiolas deve-se prender um saco plástico com o fundo cortado, que tem a função de evitar a fuga das moscas quando se coloca e retira os recipientes contendo alimento ou substrato de postura.

O alimento pode ser servido em pratos fundos da seguinte maneira:o açúcar deve ser trocado no mínimo a cada três dias ou sempre que necessário para retirada de moscas mortas e sujeiras, o mesmo vale para o leite quando for leite em pó; quando "in natura" pode-se diluí-lo com água na proporção de 1:1 e, nesse caso deverá ser trocado a cada dois dias. A água deve ser trocada diariamente e, para evitar que as moscas se afoguem, coloca-se pedaços de papel toalha na superfície da água.

Por volta do 4º ou 5º dia, após o início da fase adulta, coloca-se no interior da gaiola um prato com farelo de trigo umedecido com água, na proporção de 1,0 x 0,8 (em volume), cuja função é servir de substrato de postura. O substrato é colocado de manhã e é retirado no final da tarde, quando poderão ser observados, principalmente nas reentrâncias do substrato, pequenos ovinhos de formato alongado e coloração branca, geralmente agrupados. Esse material deverá ficar em repouso por aproximadamente 24 horas para que todos os ovos eclodam.

Por volta do 20º ao 25º dia após e início da fase adulta, as moscas começam  morrer e a gaiola é desativada, lavada e preparada para receber um novo lote de moscas que ali serão introduzidas na forma de pupas.

- Larvas: dos ovos eclodirão pequenas larvas que, juntamente com o substrato de postura, serão transferidas para uma bandeja onde já se encontra o substrato de engorda. Para o preparo deste, utiliza-se uma mistura de farelo de trigo e farinha de peixe (ou carne) na proporção de 1,5 x 1,0 (em peso), que por sua vez é umedecida com água na proporção de 1,2 x 1,0 (em volume).

Basta despejar o substrato de postura sobre o de engorda e as larvinhas penetrarão neste último. Após 3 ou 4 dias as larvas poderão ser separadas do substrato através de peneiramento e estarão prontas para serem misturadas com ração nas proporções mencionadas anteriormente.

Densidade de larvas, umidade e temperatura do substrato são fatores importantes que devem ser controlados para se ter uma boa produção. Em altas densidades as larvas não crescem devido a competição par alimento e também por causa do aumento da temperatura resultante da atividade metabólica das larvas. O excesso da umidade pode resultar na fuga das larvas e principalmente dificultar sua separação do substrato. Por outro lado, pouca umidade retarda e prejudica o seu crescimento.

Semanalmente deve-se separar uma bandeja com larvas e deixar que se transformem em pupas que serão utilizadas para reativar gaiolas vazias. A separação das pupas do substrato também é feita através de peneiramento. Embora o peso e o tamanho das pupas variem de acordo com as condições em que as larvas foram criadas, pode-se dizer que em média 5000 pupas pesam de 70 a 75 gramas e essa quantidade é ideal para povoar uma gaiola.

Os moscários devem ser instalados em locais bem iluminados e arejados, porém sem correntes de ar. A produção de uma gaiola, em condições ideais é de aproximadamente 250 gramas de larvas por dia.

 

Dados Zootécnicos

 

Principais índices e dados zootécnicos

- Número de ovos por desova: 3.000
- Mortalidade de girinos: 10 a 29%
- Mortalidade de imagos: 10 a 25%
- Mortalidade de rãs: 5 a 7 %(podendo chegar a 50%)
- Mortalidade de reprodutores: 1 a 2%
- Peso médio de abate: 170 gramas
- Rendimento médio de carcaça: 30%
- Produtividade: 4 a 5 kg de carne/m² /período de engorda
- Duração do período de engorda: 4 a 6 meses, dependendo da época do ano
- Conversão alimentar (pós-metamorfose): 2 : 1.

Obs.: na prática esses índices apresentam grande variação em função do conhecimento e experiência do ranicultor, do tipo de instalação e principalmente do manejo adotado.

Cabe mencionar aqui que recentes resultados obtidos em pesquisas desenvolvidas pelo Instituto de Pesca de São Paulo, demonstram que o aumento da temperatura ambiente resulta num desenvolvimento maior e mais rápido dos animais.

Pode-se conseguir o aumento da temperatura construindo-se os diferentes setores do ranário, com exceção do setor de estocagem de girinos, sob uma cobertura de plástico transparente, semelhante às estufas agrícolas empregadas em horticultura. Dessa forma, além de ter uma produção garantida, o ranicultor poderá obter, através de um manejo adequado, uma produção praticamente constante ao longo do ano.

 

Abate

 

Partindo do princípio de que a carne de boa qualidade só é obtida quando animais sadios são abatidos sob boas condições higiênicas, abordar-se-ão inicialmente as características do local onde as rãs serão abatidas.

Com relação à sala de abate, esta deverá ter paredes que permitam uma boa higienização, de preferência azulejadas. Janelas e portas deverão ser teladas para evitar a entrada de moscas e proporcionar boa iluminação e ventilação. O material utilizado no piso deve ser  impermeável. o piso também deve ser  dotado de uma canaleta central permitindo o escoamento das águas residuais. Água em abundancia e de boa qualidade é um dos pontos fundamentais.

A água que abastece a sala de abate deve ser clorada separadamente com hipoclorito de sódio a 10% (50 ml / 1000L de água) ou água sanitária a 2% (250 ml / 1000L de água). Os equipamentos e instrumentos utilizados no abate devem estar em perfeitas condições de uso e limpeza. É importante também, que os responsáveis por esta etapa do ciclo de produção, sejam pessoas esclarecidas e conscientes da importância do fator higiene, devendo utilizar vestuário adequado, lavar as mãos, etc.

Operações do abate

- Seleção dos animais: em função do peso - 160 a 179 gramas
- Jejum por 48 horas: para limpeza dos intestinos (purga).
- 1ª lavagem: na área do próprio tanque. Colocar os animais numa caixa de plástico ou isopor contando 10 litros de água + 500 ml de cloro. Lavar 50 animais por vez, sendo que esta solução permite a lavagem de até 400 animais.
- 2ª lavagem: na recepção do abatedouro, utilizando água corrente proveniente da caixa d'água que abastece a sala de abate (água clorada).
- Insensibilização dos animais: a insensibilização das rãs é obtida através de choque térmico, com conseqüente paralisação e anestesia dos animais. Colocam-se aproximadamente 200 rãs, em uma caixa de isopor de 120 litros de capacidade, contendo 50 litros de água, 1,5 a 2,0kg de sal grosso e bastante gelo. Após aproximadamente 10 minutos as rãs estarão imóveis.
- Retirada da pele: prende-se a rã, com auxílio de um gancho de aço inoxidável (anzol) preso a um suporte. O gancho deve perfurar a cabeça, no sentido mandíbula-centro da cabeça. Isto permite o manuseio livre do animal, e o operador terá as duas mãos desocupadas. Esta operação como todas as que se seguem deverão ser feitas sob água corrente clorada.
- Corte da pele: com uma faca bem afiada realiza-se um corte superficial ao redor do que seria o pescoço, com cuidado para não atingir a carne.
- Retirada da pele: com auxílio dos dedos polegares e indicadores, solta-se a pele ao redor do pescoço, puxando-a inteira, na sentido cabeça-cloaca seccionando-a na altura do anus. A pele sai inteira em forma de macacão.
- Abertura do abdômen: retira-se o animal do suporte e com uma faca ou tesoura cirúrgica faz-se um corte na região abdominal no sentido cloaca-cabeça, com muito cuidado para não perfurar os órgãos internos. Esta operação é realizada mantendo-se a cabeça do animal mais baixa de modo que a água escorra dos pés para cabeça.
- Evisceração: mantendo-se o animal de cabeça para baixo e ainda sob água corrente, desloca-se a víscera no sentido cloaca-cabeça, seccionando-se de uma só vez, a cabeça e órgãos internos juntos.
- Corte das patas e limpeza da carcaça: as patas são seccionadas nas articulações. Em seguida lava-se a carcaça sob água corrente para retirada do sangue coagulado. Essa operação também é conhecida como "toalete". Concluída essa operação, coloca-se as carcaças sobre uma bandeja perfurada para que escorra todo o excesso de água.
- Congelar: as carcaças podem ser embaladas individualmente ou em sacos de 01 Kg. Deve-se pressionar o saco plástico pare retirar o ar, selando a entrada do invólucro e em seguida levar ao "freezer" para congelamento a 20ºC.

 

Legislação

 

Legalização da atividade:

Como a ranicultura é um ramo da aqüicultura (arte de criar e multiplicar animais e plantas aquáticas), todo aquele que pretende montar o seu ranário é obrigado a fazer seu registro de aqüicultor junto ao Instituto Brasileira do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis - IBAMA, conforme disposta na Portaria nº 95-N, de 30 de agosto de 1993. Para comercializar a sua produção o ranicultor também terá que obter e inscrição de produtor rural junto ao órgão competente.

 

Mercado

 

Formas de comercialização

 

A comercialização das rãs pode ser feita das diversas maneiras que se seguem:

     

  • Rãs vivas para o abate;
  • Carne ou rãs abatidas, sendo as carcaças inteiras, vendidas frescas ou congeladas, de acordo com as circunstâncias;
  • Pernas de rãs, destinadas principalmente à exportação para os Estados Unidos e outros países que só consomem essas partes;
  • Carne de rã industrializada, enlatada ao escabeche, ao creme, etc.,
  • Patê de fígado;
  • Couros secos ou curtidos;
  • Reprodutores adultos ou quase em fase de reprodução;
  • Girinos selecionados para a reprodução;
  • Girinos de corte para a recria e engorda,
  • Rãs para laboratórios e cujas especificações são ditadas pelos compradores;
  • Rãs para Faculdades e escolas, para estudos, pesquisas e testes.

Como toda atividade no País, a ranicultura requer dedicação do produtor

, técnica e paciência para obter o retorno financeiro. A área média recomendada para a implantação de um ranário rentável comercialmente varia entre 500 e 700 m2. Com esse projeto o ranicultor pode atingir uma produção anual de 2.000kg de carne. Atualmente o custo de implantação médio no Estado de São Paulo varia entre R$ 30,00 a R$ 50,00/ m2 de área construída. O custo de produção médio é de aproximadamente R$ 5,00/ kg de carne, tendo como seu fator mais oneroso o preço da alimentação, e o preço médio no atacado em São Paulo gira em torno de R$ 9,00 a R$ 14,00/ kg de carne (2000).

 

 

Mercado Nacional

 

Praticamente toda a produção brasileira é absorvida pelo mercado interno, mas o Brasil possui condições de conquistar grande espaço no mercado externo. Atualmente o consumo no Brasil situa-se em torno de 400 toneladas/ano, segundo a Associação Brasileira de Ranicultura e conta com aproximadamente 600 ranários implantados, 15 indústrias de abate e processamento, 6 associações estaduais de ranicultores e 4 cooperativas. Quanto aos subprodutos podemos dizer que praticamente o ranicultor ganha dinheiro hoje apenas com a venda da carne. As vísceras e a pele são quase que em sua totalidade descartadas. Existe tecnologia para curtimento da pele, mas não há indústria que faça isso em escala comercial.

 

 

Mercado Internacional

 

O preço dos produtos oriundos da Ranicultura, no mercado internacional, é bastante variável em função de diversos fatores, entre os quais merecem destaque o tamanho do produto, a época do ano e a sua origem. Os originários da criação em cativeiro, geralmente têm preço mais elevado, em razão de seus próprios custos de produção e também por possuírem maior qualidade e regularidade na oferta.

 

Boa parte das 10 mil toneladas de carne de rã que circulam anualmente no mercado internacional é fornecida por países asiáticos, principalmente a Indonésia. Nesses países, os animais levados ao abate não vêm de criações mas são caçados na natureza. Essa diferença em relação ao produto brasileiro, totalmente originário da criação em cativeiro, é uma das razões da boa aceitação das rãs que exportamos para a Europa, onde estão os maiores compradores.

 

O preço, por quilo, de coxas de rã importadas pela Comunidade Européia, no período de 97/98 variou entre 2.33 e 6.2 euros, alcançando um valor médio de 4.1 euros. Nos EUA, onde a preferência por coxas grandes é notória, o preço médio de suas importações em 1997 foi da ordem de US$6.37 /kg. Nesse mesmo período, o Canadá pagou US$3.87 /kg em média.

 

 

 

 

Informação Adicionais

Legislação

 

IBAMA – Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Renováveis.

Alameda Tietê, 637 – São Paulo/SP

Tel: (11) 883.1300

 

DEPRN – Departamento Estadual de Proteção dos Recursos Naturais.

São Paulo/SP Tel: (11) 3030.6838

 

DAEE – Licença de uso de água

R: Butantã, 285 – São Paulo/SP

Tel: (11) 212.8332 ramal 2011

 

CETESB tel : (11)210.1100 ramal 384/286

 

Abatedouros

Para obtenção do SIF – Serviço de Inspeção Federal

Ministério da Agricultura de São Paulo

Tel: (11) 283.5627 / 284.6633 / 283.5695

 

Para obtenção do SISP- Serviço de Inspeção de São Paulo

CIPOA- Centro de Inspeção de Produtos de Origem Animal

Tel: (11) 3865.1721 / 3865.2388

 

Abatedouro de Atibaia Tel: (11) 484.2038

Abatedouro de Jundiaí Tel: (11) 7394.0213 (SISP)

Abatedouro da CORÃVAP Tel: (12) 272.1485 (SIF)