Cacau

 

Generalidades

História

O cacaueiro é planta americana, tendo como centros de difusão a América Central e o norte da América do Sul, na bacia amazônica. Na era pré-colombiana os povos que habitavam a América Centrei usavam sementes, convenientemente preparadas, como alimento, ao passo que os povos, sul-americanos, a partir da polpa, fabricavam bebidos alcoólicos. Os povos Centro-Americanos consideravam o cacaueiro como um presente divino e aceitavam suas sementes como moeda, no pagamento de impostos, na compra de escravos e em outras transações.

Foram os espanhóis, por ocasião da conquista do México, os primeiros povos civilizados a conhecerem e usarem o chocolate. Tornando-se apreciadores da bebida, assim trataram de aperfeiçoar o seu preparo pela adição do açúcar, desconhecido dos indígenas. Durante algum tempo os espanhóis conseguiram guardar o segredo do preparo desse produto em suas próprias colônias, o que permitiu o monopólio do comércio no mundo civilizado. Todavia, tal foi a difusão do uso do chocolate na Europa que, na própria Espanha, na França, na Alemanha e na Inglaterra, se instalaram fábricas desse produto.

Da América, a cultura do cacau foi introduzida na África, na Ásia, na Oceania, tendo se desenvolvido principalmente no continente africano.
No Brasil, durante muitos anos, a sua cultura ficou restrita a região amazônica. Nos meados do século XVIII, porém, foi introduzida no sul do Estado da Bahia onde, encontrando condições bastante favoráveis, se desenvolveu a ponto deste Estado se constituir, no maior centro brasileiro de produção.

A cacaicultura está localizada, sobretudo nas regiões Nordeste, Norte e Sudeste. A Bahia é o principal produtor, com mais de 90% do cacau produzido no Brasil. Além da Bahia os grandes produtores de cacau do Brasil são: Espírito Santo, Rondônia, Pará e Amazonas.

O cacaueiro é também plantado em outros estados, mas em menor escala. O Brasil é segundo produtor mundial de cacau; o primeiro é a Costa do Marfim na África.

Classificação botânica

O  cacaueiro é uma planta perene, arbórea, dicotiledônea, pertencente à família Sterculiaceae e ao gênero Theobroma. Compreende esse gênero um número relativamente grande de espécies, porém, as maiorias das formas cultivadas atualmente são consideradas como pertencente a T. caco L.

Cultivares

A palavra CULTIVAR é utilizada para designar um material genético, ainda em estudo e substitui a palavra variedade empregada antigamente com o  mesmo objetivo.

Botanicamente se reconhecem três grupos de cacaueiro:

Forasteiros Amazônicos: Compreendem os cacaueiros comuns do Brasil e da África Ocidental e o Cacau Nacional do Equador. Chamam-se amazônicos, porque aparentemente estão distribuídos em forma natural na bacia desse rio e seus afluentes. Podemos aqui distinguir duas subdivisões que doas representadas por cacaueiros do alto e do baixo amazonas. Entre os primeiros ganham destaque os cultivares conhecidos com SCAVINA 6, SCAVINA 12, POUND 7, POUND 12 e IMC 67. Entre os segundos destacam-se entre nós o COMUM da Bahia, CATONGO, PARÁ e ALMEIDA. Os frutos destes cacaueiros são verdes quando imaturos e amarelos quando maduros. As sementes são de coloração roxa.

O fruto do cacaueiro contém, em média, de 20 a 50 sementes; uma semente quando seca pesa em média 1 grama.

Crioulos: Estes cacaueiros tiveram sua origem nos antigos cacaueiros crioulos venezuelanos, incluindo também cacaueiros nativos do México, Nicarágua e Colômbia. Apresentam frutos verdes ou vermelhos quando imaturos passando depois a amarelo ou amarelo-avermelhado quando da maturação. As sementes são brancas ou levemente pigmentadas de roxo.

Trinitarios: São também conhecidos como complexo trinitario, parecendo aceitável a explicação de que para sua formação contribuíram os Crioulos e os Forasteiros Amazônicos. Estes híbridos naturais deram uma população bastante heterogênea e, por conseguinte de grande interesse aos geneticistas e melhoristas. Alguns centros de investigação e pesquisa se ocuparam em selecionar as melhores plantas destes materiais, e fizeram mesmo uma grande quantidade de cruzamentos entre os tipos que apresentassem características mais desejáveis. Em Trinidad apareceram os cultivares conhecidos como ICS (Imperial Colege Selection) e em Costa Rica os não menos conhecidos UFC (United Fruit Company).

Geralmente estes materiais genéticos apresentam grande diversidade de formas e coloração dos frutos. No geral as sementes são de grande tamanho, podendo variar enormemente na sua coloração, mesmo dentro de um fruto considerado. É comum encontrarmos sementes brancas, rosadas, roxas e roxo intensas dentro de um mesmo fruto.

Clima e Solo

Clima

O cacaueiro é muito exigente em calor e umidade. A sua cultura, do ponto de vista econômico, só é recomendável, em regra geral, nas regiões cuja temperatura média anual esteja em torno de 23 a 25ºC e a média anual das temperaturas mínimas ao redor de 21ºC. Temperaturas inferiores a 15ºC são sempre perigosas para a cultura. Do ponto de vista de umidade, considera-se como limite mínimo uma precipitação anual de 1250 mm, bem distribuído, com um período de estiagem não superior a 2 meses, todavia, precipitações superiores a 5.000mm são consideradas indesejáveis, pois contribuem para o aparecimento de fungos nocivos à cultura.

Da relação entre temperatura e chuva deve resultar um ambiente mais ou menos úmido, girando em torno de 80%, a média anual da umidade relativa, do ar.

Essas condições o cacaueiro encontra nas regiões intertropicais, entre altitudes variáveis de 300 a 600 metros e nas proximidades da linha equatorial entre 0 e 150 metros. No Brasil, as culturas mais afastadas do Equador estão localizadas a 19º L.S. (latitude sul), no Estado do Espírito Santo, no Vale do Rio Doce e a 22º LS., no Estado do Rio de Janeiro.

Solo

O cacaueiro é uma planta que prefere solos profundos, porosos e frescos; daí a razão pela qual os terrenos de mata terem sido os preferidos para a implantação de sua cultura. Do ponto de vista químico, são considerados melhores os solos cujo subsolo se apresente um pouco mais argiloso que o solo superficial, uma vez que nas condições climáticas atrás referidas, as perdas dos elementos solúveis por infiltração são elevadas. Tais perdas devem ser compensadas principalmente pelas adubações.

Quanto à acidez, o cacaueiro prefere os solos de pH próximo a 7; uma acidez até as proximidades de 5,5 parece não causar prejuízos consideráveis às plantas.

Em relação à topografia tanto se cultiva o cacau nas meia-encostas como nos vales dos rios. Nestes últimos, contudo, a produção por área é maior, mais constante e menos dispendiosa.

Preparo do solo

O processo mais usado de preparo do terreno coberto de mata é o mesmo empregado para outras culturas, como a do cafeeiro, citrus etc. Consta, em resumo, da roçada, da derrubada e da queima, após um período mais ou menos longo de seca; deste modo, facilita-se a instalação do cacaual e eliminam-se em sua maior parte, as pragas vegetais e animais. Todavia, a matéria orgânica é destruída em grande parte e a cinza resultante dentro de algum tempo desaparece pelas lavagens e pela erosão; as ervas más nestas condições encontram ambientes favoráveis para um desenvolvimento rápido e vigoroso.

Em conseqüência destas desvantagens advindas com a queima das matas, alguns proprietários não a fazem, embora este fato contribua a embaraços posteriores nos trabalhos de instalação da cultura, Noutras ainda, a adaptação do terreno se resume apenas na roçada, para facilitar a movimentação no interior da mata, e na eliminação de uma certa porcentagem de árvores, geralmente as maiores, pelo seu descascamento progressivo ou mesmo pelo seu corte. Nestas condições, conserva-se a matéria orgânica por maior espaço de tempo e garante-se uma sombra relativa à cultura.

Como inconveniente deste processo aponta-se o fato das árvores não derrubadas, descascadas ou não, ficarem sujeitas ao tombamento pelos ventos, e conseqüentemente quebrando plantas de cacau, pela caída dos seus ramos.

Em terreno já plantado com cacau ou outras plantas, recomenda-se cultivá-lo antes, por alguns anos, com uma cultura de proteção (sombreamento temporário), como é o caso da bananeira. Sem tal proteção, a instalação do cacaual torna-se problemática.

Plantio

Um cacaual pode ser formado a partir da semeadura direta ou, então de mudas, previamente preparadas em viveiros.

Mudas

Como no caso de outras culturas permanentes, o preparo das mudas se dá em viveiros, naturais e artificiais, nas suas diversas modalidades e com as vantagens e desvantagens já conhecidas. Os canteiros têm aproximadamente as mesmas dimensões e o seu preparo consta igualmente de uma cava de 25 a 30cm de profundidade; no caso de se preferir mudas com torrões, o substrato deve ser suficientemente compacto enquanto que no caso de mudas de raízes nuas será preferível um substrato mais leve, o que se consegue com areia ou matéria orgânica.

A semeadura é feita também no início da época chuvosa, à distâncias que oscilam entre 15 a 25cm. Maiores afastamentos são usados no caso de mudas de torrões e no caso de transplantio mais cedo, com apenas 6 meses, adota-se o espaçamento menor. A germinação se processa entre 10 a 15 dias após a semeação.

Os cuidados a serem dispensados às mudas no viveiro se resumem em regas, capinas e combate às pragas e moléstias que porventura apareçam.
Muitos preferem a semeadura direta em recipientes, como laminados ou em sacos plásticos de polietileno; trata-se de processo mais trabalhoso, porém, vantajoso na operação de transplantio. Os recipientes são dispostos no viveiro, uns ao lado dos outros, em formato de canteiros, de modo a evitar o ressecamento dos mesmos. O transplantio é feito em pleno período de chuvas, procurando no caso de mudas nuas, operar em dias de céu nublado.
As mudas podem ser também obtidas por propagação vegetativa, estaquia, mergulhia ou enxertia. Esta última é a forma que melhores resultados vem apresentando havendo muitos cacauais formados a partir de mudas obtidas pelo processo de borbulha de escudo. As borbulhas são retiradas de preferência de ramos ladrões, cuja grossura se assemelha à do cavalo usado, o qual deve ter aproximadamente 8 a 10mm de diâmetro, o que corresponde a uma idade aproximada de 6 meses.

Espaçamento

As mudas devem ser plantadas no espaçamento de 3,5x2,5m ou 3,5x3,0m nos solos mais férteis. O plantio deve ser em nível.

Cultivo

 

Em cacauais adultos, suficientemente sombreados, com o solo recoberto pela camada de matéria orgânica proveniente da derrubada de mata, os cultivos se resumem em duas ou três capinas anuais. Outra prática consiste na incorporação anual da matéria orgânica e dos restos de colheita em valas de 50cm de largura por igual profundidade, abertas em ruas alternadas. Deste modo, ao mesmo tempo em que se pratica uma adubação orgânica, visando a melhoria das propriedades físicas do terreno, também se destroem focos de pragas e moléstias, constituídos pelos frutos não aproveitados e pelas cascas provenientes de extração das amêndoas.

A adubação e o controle às pragas e moléstias são práticas imprescindíveis à cultura do cacaueiro. As adubações só poderão ser convenientemente aconselhadas depois de uma consciente análise do solo. Contudo, em relação às moléstias, medidas preventivas como o aumento de arejamento no caso de excesso de sombra, a proteção das feridas e lesões das plantas, a eliminação de árvores gravemente atacadas, a supressão de plantas hospedeiras, podem e devem ser observadas.

Poda

Na cultura do cacau a poda deve ser restrita a um mínimo necessário para a boa formação da árvore e um perfeito arejamento da cultura. Dois são os tipos de poda recomendados: o de formação e o de manutenção. Pelo primeiro procura-se provocar o desenvolvimento de apenas 3 ou 4 galhos na coroa. Os ramos ladrões que, porventura, apareçam no tronco, abaixo da coroa,  deve ser eliminados, a não ser que o ramo inicial apresente algum defeito; neste caso é preferível deixar que se desenvolva um segundo ramo que será aproveitado na formação da planta.

A poda de manutenção consiste na eliminação de galhos secos e enfermos ou ainda de ramos cuja folhagem não receba adequadamente a luz solar.
Os cortes provenientes da poda devem ser firmes, sem dilaceramento e no nível da base do ramo. Recomenda-se ainda a sua proteção com tintas ou fungicidas em pasta, para evitar a incidência de moléstia na parte secionada.

Sombreamento

A prática tem demonstrado que o sombreamento do cacau é uma necessidade, não só pelo fato de se tratar de uma planta umbrófila, como por concorrer para uma maior longevidade da cultura e uma produção econômica mais regular. Todas as vezes que se tem tentado sua cultura a pleno sol, os resultados têm sido desfavoráveis, a não ser em casos especiais de tipo de solo ou de cultivos e adubações orgânicas que preencham, em parte, algumas das finalidades do sombreamento.

O sombreamento pode ser conseguido pela conservação parcial do bosque ou, no caso da derrubada total da mata e no caso de terreno já cultivado, pelo plantio de árvores de sombra. O primeiro processo não é muito recomendável a não ser em casos especiais, como carência de braços, por exemplo. É que proporciona um sombreamento muito heterogêneo, dificulta o alinhamento da cultura, além de outras vantagens. 

Como vantagens são citadas principalmente, as duas seguintes:
a) maior economia na instalação do cacaual;
b) e melhor conservação do solo florestal.

Dois são os tipos de sombreamento empregados quando da instalação de um cacaual em terreno recém-desbravado ou já cultivado: o sombreamento provisório, feito com plantas de crescimento rápido, visando uma proteção imediata, e o sombreamento permanente, feito geralmente com essências de crescimento lento.

Como sombreamento provisório podemos recorrer a algumas leguminosas, dos gêneros Crotalaria, Tephrosia, Canavalia e Calopogonium ou, então, as plantas úteis como a bananeira, a taioba e o inhame japonês. Como árvore de sombra permanente podem ser mencionadas: o "kapok" (Ceiba pentandra Gaertn). da família Bombaceae; a Aleurites molucana (L) Willd. e a A. Montana (Lour.) Wilson, da família Euphorbiaceae; o genipapeiro (Genipa americana L) da família Rubiaceae e as leguminosas Erythrina velutina Willd., E. Litosperma Bl ex Mig. E. indica Lam., Cássia javanica L., C. grandis L., Parkia pendula Benth. (juerana), Albizzia lebbec Benth, Ptercolobium edwalii, e outras.

A instalação do sombreamento provisório ou permanente pode ser feita pela semeadura direta ou por meio de mudas preparadas em viveiros, sendo este último preferível por razões óbvias. As árvores de sombra são plantadas no mesmo alinhamento do cacau; desse modo as entrelinhas, após o desaparecimento do sombreamento provisório, ficarão livres para os trabalhos de vigilância, combate às pragas e moléstias, adubação e colheita.

Adubação

A cultura do cacau entre nós tem sido conduzida em terrenos de mata e desse modo a adubação não constitui um problema fundamental como na maioria das culturas. Todavia, levando-se em consideração que os solos tropicais são, do ponto de vista químico, geralmente pobres e que a matéria orgânica, principal reguladora de suas qualidades físicas, químicas e biológicas, é de decomposição relativamente rápida, é natural a tendência de as lavouras entrarem, mais cedo ou mais tarde, em regime de produção deficitária. Daí a necessidade das adubações para a restituição da matéria orgânica destruída e dos elementos químicos subtraídos pela erosão, pelas lavagens e pelo esgotamento produzido pelas colheitas.

Desse modo, enquanto experiências locais de adubação não determinarem as dosagens econômicas dos adubos minerais fosfatados, potássicos, nitrogenados, cálcicos e magnesianos, o lavrador deverá procurar conservar a matéria orgânica do solo e mesmo fazer aplicações sob as formas de esterco, composto, tortas ou adubos verdes.

Adubação e calagem

Realizar as adubações e calagens com base na análise de solo.

Calagem: aplicar calcário dolomítico até alcançar índices de saturação de bases de 50% (V=50%);

Adubação de plantio:
com antecedência de 60 dias ao plantio incorporar, por cova, 2 kg de esterco de galinha ou torta de mamona, 1 kg de calcário dolomítico, 100g de P205 e 30g de K20.

Adubação de formação:
Para formação, durante os três primeiros anos aplicar, em cobertura ao redor das plantas as seguintes quantidades de nutrientes, N - P205 - K20, em gramas por cova:
- Primeiro ano:   30 - 10 - 60
- Segundo ano:  60 - 20 - 90
- Terceiro ano:   90 - 30 - 20

Adubação de produção: aplicar, de acordo com a análise de solo, realizada de dois em dois ou três em três anos, as seguintes quantidades de nutrientes:

P resina
mg/cm

K trocável - meq/100cm3

0-0,15 

> 0,15 

N - P2O5 - K2

0 - 15  120 - 40 - 120 120 - 40 - 60
> 15 120 - 20 - 120 120 - 20 - 60

Parcelar a adubação, aplicando em três vezes, em cobertura, nos meses de outubro - dezembro - março. Em caso de deficiência de zinco, aplicar 30g de sulfato de zinco juntamente com os outros nutrientes.

Pragas e moléstias

A cultura do cacau é perseguida por um número relativamente grande de pragas e moléstias. Dentre as moléstias, a de maior importância econômica é a podridão do fruto causada pelo fungo Phytophthora palmivora Butler e cujo controle pode ser feito pela destruição dos frutos atacados e através de pulverização indicada por técnico.

Entre as pragas, as que maiores prejuízos ocasionam são alguns ortópteros, trips, coccídeos e coleópteros que atacam as folhas e brotos novos. Merece destaque também alguns lepidópteros cujas larvas praticam galerias nos frutos.

No viveiro, sempre que houver suspeita ou confirmação de nematóides, fazer a fumigação do solo com brometo de metila.

Colheita

 

A colheita de cacau deve ser feita somente de frutos maduros. Com o amadurecimento dá-se uma contração de polpa e as sementes ficam quase livres, presas ao cordão central; desse modo, ao receber pancadas manuais, o fruto emite um som característico.

Ao se processar a colheita, com podões bem afiados, presos na extremidade de uma vara, o operador deve observar os seguintes pontos:
- que o fruto esteja maduro;
- que o corte do pendúculo seja nítido e feito de modo a deixar sua base intacta, pois a mesma é ponto de origem de futuras flores;
- que se evite ferir as almofadas florais;
- que os frutos ao alcance das mãos sejam cortados com instrumentos apropriados e nunca por simples torção dos pedúnculos.

A colheita de frutos verdes e verdolengos, em mistura com maduros e passados, dá como conseqüência um produto de fermentação desigual, de maus aspecto e de cotação baixa no mercado. Por ocasião da retirada das amêndoas recomenda-se separá-las segundo o estado de maturação do respectivo fruto.

Uma vez derrubada, os frutos são amontoados em locais previamente escolhidos do cacaual. A seguir, procede-se à extração das amêndoas, cortando-se os frutos com um facão apropriado. As amêndoas são então amontoadas ou postas diretamente em caixas para o seu transporte.

No Estado da Bahia, o cacaueiro dá duas colheitas principais: a chamada "temporão", de março a julho e a da "safra", entre setembro e novembro. Fora dessas épocas ele produz frutos isolados cuja colheita recebe o nome de "catagem".

O cacaual começa a produzir no segundo ano após o plantio, porém, somente entra no regime de franca produção a partir do quinto ano: no Estado da Bahia considera-se normal uma produção de 400 a 500 kg por hectare. As novas plantações, feitas dentro das modernas práticas agronômicas adotando adubações corretas, controle efetivo às pragas e moléstias, redução do número de árvores de sombra e principalmente utilizando variedades híbridas de alta produção deverão duplicar, triplicar ou mesmo quadruplicar a produtividade das áreas cacaueiras do sul da Bahia.

Beneficiamento

O beneficiamento consta essencialmente de duas operações:
- a fermentação
- a seca.

Fermentação: a fermentação tem por fim, a eliminação da polpa e melhoria das qualidades organolépticas do cacau. Para esse fim são construídos cochos, de capacidade variável, convenientemente abrigados do vento, das chuvas e das variações bruscas de temperatura. Uma vez cheios, são os cochos cobertos por folhas de bananeiras ou sacos de aniagem para se evitar a queda de temperatura. Em virtude da presença de açúcar em sua composição, a polpa entra num processo de fermentação alcoólica com conseqüente elevação de temperatura, podendo atingir até 500C.

Visando à homogeneização das condições de temperatura e fermentação, as amêndoas de cada cocho devem ser revolvidas uma vez ao dia enquanto durar o processo. A polpa fermentada se transforma em líquido que se escoa através das fendas e de orifícios próprios do cocho. No final de seis ou sete dias completa-se a fermentação, o que se reconhece pela cor escura das sementes.

Seca: A seca geralmente é feita utilizando-se o calor natural, recorrendo-se às chamadas "barcaças" ou aos "balcões". Constam de construções de madeira com bandejas fixas e teto móvel no primeiro caso e bandejas móveis e teto fixo, no segundo caso. Para acelerar e uniformizar a seca, que dura de 6 a 8 dias, as amêndoas devem ser revolvidas constantemente.

Nas regiões em que a colheita coincide com época chuvosa, a seca pode ser feita recorrendo-se a estufas especiais; neste caso, todavia, devem-se evitar as temperaturas altas que podem torrar o produto com prejuízo de suas qualidades.

Em alguns países costuma-se submeter o produto a uma lavagem antes de se processar a seca, visando com isso suprimir qualquer resíduo da polpa e desse modo melhorar sua apresentação. Mas, para se alcançar bons resultados, a lavagem deve ser rápida e enérgica, o que somente se consegue em máquinas adequadas, dotadas de centrifugas.

Como complemento do beneficiamento, em algumas zonas, se praticam o polimento das amêndoas, bem como a catação das impurezas resultantes da fermentação, visando assim obter um produto de melhor qualidade.
Convenientemente beneficiadas, as amêndoas são conservadas a granel ou em sacos, em depósitos, secos e ventilados, para se evitar a deterioração do produto.